Todo aquele que se embriaga deveria
saber as razões pelas quais se embriaga. Ao menos por prudência e sabedoria.
Encher a cara não te fará mais
sábio ou prudente com toda certeza, mas saber os motivos certos para se
embriagar é uma arte que deve ser levada a sério e praticada com disciplina
espartana.
Esses são os requisitos básicos
para perfilar-se com Baco e não com os relés mortais que se embriagam dia após
dia sob o pretexto de afogar as mágoas. A bebedeira desenfreada não é religiosa
nem mesmo benéfica ao espírito. Afinal de contas o homem que se entrega por
longo tempo a embriagar-se se encontra servo da bebida e sem a retidão de
personalidade necessária para se livrar do vício quando seu fígado ou discernimento
e autodomínio já estiver corroído pelo álcool. Seria como se aprisionasse num
alambique e sem saber como sair deste recipiente cavasse sua própria sepultura.
Não inspira prudência nem
admiração àqueles que bebem por não serem capazes de evitar a tentação duma
garrafa. Esse tipo de pessoa não passa de alvo da própria degradação pueril e
sistemática duma moléstia que o levará a associações de auto ajuda. Seria sensato
alertar aos incautos que beber e depois passar a se vangloriar e proferir uma
repetição monótona de palavras vulgares se trata de perniciosa aberração não
oriunda do estado ébrio, mas sim duma condição moral execrável e anômala a
razão. Por tal motivo é que eles precisam se associar numa sessão de auto ajuda
para fazer uma catarse das ações que fizeram sob domínio do álcool.
O acaso e a circunstância também
não ressoa como motivo ideal para se embriagar. Todavia, pode-se tolerar aquele
que bebeu nesses casos e não taxá-lo tolo, ficando apenas razoável ser taxado
de imprudente caso dê algum vexame. O resultado desse tipo de embriaguez não é
funesto como o primeiro daquele que bebe inveteradamente cotidianamente e por
isso é passível de ser relevado.
Aqueles que possuem temperamento
meio nervoso e irritadiço é recomendável que se embriague em locais adequados
longe de armas e punhais para que não venha
a suicidar por uma taque de histeria compulsiva ou se tornar um potencial
homicida do companheiro de algazarra ou muito menos premeditar e levar a cabo
uma vingança pessoal em estado etílico.
O ato de se embriagar deve ser
solene e amiúde a fatos que mereçam serem homenageados como uma bela noite de
luar, um belo dia de sol, uma bela manhã de inverno ou uma bela tarde de outono.
Contemplar o clima e a natureza tomando uma bebida adequada à situação é uma
motivação aprovável e sensata para se embriagar.
Outras motivações que são
originalmente banais e também são aprovadas são aquelas que remetem a
embriagar-se durante as festas de bodas e aniversários e até mesmo por ocasiões
de funerais de entes queridos. Além disso, e sem sombra de dúvida, embriagar-se
para comemorar o findar de mais um dia de labuta e trabalho é plenamente aceitável
e edificante caso o indivíduo esteja apto a ir trabalhar no dia seguinte.
Recomenda-se ainda que os dias de
descanso e finais de semana, bem como, os passeios noturnos sabáticos sejam
regados a álcool e de preferência em companhia de mulheres insinuantes que
estejam dispostas a consumir pouca bebida e a partir disso entrega-se aos
prazeres da carne em ocasião posterior.
Devem ter notado que há um leque
de opções amplo para que se possa embriagar de forma serena e sensata sem
causar maiores transtornos e extasiar-se com momentos sublimes sob o efeito de
um bom produto etílico seja com gelo ou in natura.
Deveras o que não se pode fazer é
incorrer numa sobriedade tão lamuriosa que quando se bebe se faça aquilo que
venha a mente com um lampejar de tolice. Tais coisas devem ser feitas após a
embriaguez, pois na verdade, a maioria delas sem dúvida serão atos tão
insensatos e bestas que poderão arruinar a reputação de seu executor e lançar
sobre o ato de embriagar-se má fama imerecida. E isso é imperdoável.