sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Tratado sobre a embriaguez




Todo aquele que se embriaga deveria saber as razões pelas quais se embriaga. Ao menos por prudência e sabedoria.

Encher a cara não te fará mais sábio ou prudente com toda certeza, mas saber os motivos certos para se embriagar é uma arte que deve ser levada a sério e praticada com disciplina espartana.

Esses são os requisitos básicos para perfilar-se com Baco e não com os relés mortais que se embriagam dia após dia sob o pretexto de afogar as mágoas. A bebedeira desenfreada não é religiosa nem mesmo benéfica ao espírito. Afinal de contas o homem que se entrega por longo tempo a embriagar-se se encontra servo da bebida e sem a retidão de personalidade necessária para se livrar do vício quando seu fígado ou discernimento e autodomínio já estiver corroído pelo álcool. Seria como se aprisionasse num alambique e sem saber como sair deste recipiente cavasse sua própria sepultura.

Não inspira prudência nem admiração àqueles que bebem por não serem capazes de evitar a tentação duma garrafa. Esse tipo de pessoa não passa de alvo da própria degradação pueril e sistemática duma moléstia que o levará a associações de auto ajuda. Seria sensato alertar aos incautos que beber e depois passar a se vangloriar e proferir uma repetição monótona de palavras vulgares se trata de perniciosa aberração não oriunda do estado ébrio, mas sim duma condição moral execrável e anômala a razão. Por tal motivo é que eles precisam se associar numa sessão de auto ajuda para fazer uma catarse das ações que fizeram sob domínio do álcool.

O acaso e a circunstância também não ressoa como motivo ideal para se embriagar. Todavia, pode-se tolerar aquele que bebeu nesses casos e não taxá-lo tolo, ficando apenas razoável ser taxado de imprudente caso dê algum vexame. O resultado desse tipo de embriaguez não é funesto como o primeiro daquele que bebe inveteradamente cotidianamente e por isso é passível de ser relevado.

Aqueles que possuem temperamento meio nervoso e irritadiço é recomendável que se embriague em locais adequados longe de armas e punhais para que  não venha a suicidar por uma taque de histeria compulsiva ou se tornar um potencial homicida do companheiro de algazarra ou muito menos premeditar e levar a cabo uma vingança pessoal em estado etílico.

O ato de se embriagar deve ser solene e amiúde a fatos que mereçam serem homenageados como uma bela noite de luar, um belo dia de sol, uma bela manhã de inverno ou uma bela tarde de outono. Contemplar o clima e a natureza tomando uma bebida adequada à situação é uma motivação aprovável e sensata para se embriagar.  

Outras motivações que são originalmente banais e também são aprovadas são aquelas que remetem a embriagar-se durante as festas de bodas e aniversários e até mesmo por ocasiões de funerais de entes queridos. Além disso, e sem sombra de dúvida, embriagar-se para comemorar o findar de mais um dia de labuta e trabalho é plenamente aceitável e edificante caso o indivíduo esteja apto a ir trabalhar no dia seguinte.

Recomenda-se ainda que os dias de descanso e finais de semana, bem como, os passeios noturnos sabáticos sejam regados a álcool e de preferência em companhia de mulheres insinuantes que estejam dispostas a consumir pouca bebida e a partir disso entrega-se aos prazeres da carne em ocasião posterior.

Devem ter notado que há um leque de opções amplo para que se possa embriagar de forma serena e sensata sem causar maiores transtornos e extasiar-se com momentos sublimes sob o efeito de um bom produto etílico seja com gelo ou in natura.   

Deveras o que não se pode fazer é incorrer numa sobriedade tão lamuriosa que quando se bebe se faça aquilo que venha a mente com um lampejar de tolice. Tais coisas devem ser feitas após a embriaguez, pois na verdade, a maioria delas sem dúvida serão atos tão insensatos e bestas que poderão arruinar a reputação de seu executor e lançar sobre o ato de embriagar-se má fama imerecida. E isso é imperdoável.  

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